BURDIEU-PASSERON


A Escola segundo A Escola segundo BOURDIEU e PASSERON

BOURDIEU
BOURDIEU
Hoje estive pensando num fato cotidiano do cenário da Educação no Brasil: muito se fala, mas pouco se pensa. Pessoas  que se ocupam com críticas, negativismo e conformismo, certamente não se propoem a pensar em soluções para os problemas que apontam. Mas quero esclarecer desde já que não são todos que pensam assim e que existiram e ainda existem pensadores dignos de todo respeito, que não só ressaltaram o problema, mas nos inspiraram a encontrar soluções. Inspiraram pois a mesma receita certamente não é eficaz em todas as pessoas, senão trataríamos a gripe suína com xarope e muito chá de alho.
Na verdade toda essa introdução é para apresentar dois pensadores que não só mudaram a minha concepção sobre o sistema de ensino, mas também me inspiraram a não me conformar e a fazer a diferença.  Na universidade fui desafiada a fazer uma resenha sobre um dos capítulos da obra “A Reprodução”, que foi escrita por esses dois pensadores analíticos. É uma obra grandiosa e complexa, em que todos os capítulos se entrelaçam e reaparecem, como um turbilhão de ideias a cada leitura. Não resisti a apenas ler um capítulo, tive o prazer de ler a obra toda. Recomendo a todos que queiram ampliar as idéias sobre o sistema escolar! E para quem quiser saber um pouco mais sobre a obra, segue abaixo alguns trechos da minha resenha sobre a obra. Boa leitura!


Resenha de “A Reprodução” – por Ana Carolina Campos
“Em 1970, Pierre Bourdieu e Jean Claude Passeron publicaram o livro “A Reprodução”, resultado de uma ampla pesquisa baseada apenas em experiências sobre o sistema escolar da França (com foco no sistema universitário) e também sobre a seleção no momento de passagem para o ensino superior.
A REPRODUÇÃO
A REPRODUÇÃO
A obra analisa e critica o modo de ver e pensar da escola francesa, e também define a mesma como “o espaço da reprodução social e um eficiente dominio de legitimação das desigualdades” (BUSETTO, 2006, p.113) , ou seja, a escola é vista pelos autores como um local, uma instituição que reproduz a sociedade e seus valores e que efetiva e legaliza as desigualdades em todos os aspectos pois é na escola que o legado econômico da família transforma-se em capital cultural.
Nos primeiros capítulos, Bourdieu e Passeron defendem a idéia de que a escola não é neutra, não é justa, não promove a igualdade de oportunidades, e também não transmite da mesma forma determinados conhecimentos, pois é a cultura da classe dominante. A escola, ao tratar de maneira igual tanto em direitos quanto em deveres aqueles que são diferentes socialmente, acaba privilegiando os que por sua herança cultural já são privilegiados.
O terceiro capítulo da obra, chamado “eliminação e seleção”, descreve de forma crítica e analítica o exame na estrutura de ensino, sobretudo francês.
É a partir deste pensamento que os autores começam a caracterizar o exame como um intrumento de seleção, classificação, e tambem a mostrar seu peso e valor no ambiente escolar.
Segundo bourdieu e passeron, o exame impõe uma definição social do conhecimento e da maneira de manifestá-lo, ou seja, padroniza respostas e reações relacionadas a determinados conteúdos e limita de certa forma, o conhecimento e as capacidades adquiridas e desenvolvidas ao longo dos anos.
A escola utiliza o exame para selecionar os indivíduos tecnicamente mais competentes e os classifica desde os primeiros anos de vida escolar, colocando-os sob o status de nobreza escolar.
Já aqueles originários de classes populares, muitas vezes sao eliminados do sistema antes mesmo de serem examinados e avaliados, o que mostra o quanto as desigualdades sao fortes e influentes no ingresso e êxito escolar do indivíduo.
Neste ponto, os autores utilizam os termos probabilidade de passagem e probabilidade de êxito para ressaltar o quanto as diferenças culturais podem intervir na vida e no sucesso escolar de determinada pessoa. Aqueles que vieram ou passaram por uma estrutura social pobre em condições básicas de sobrevivência e informação de qualidade, tem chances menores de obter êxito escolar e ingressar no ensino superior.
Os que conseguem, tendem a começar a reproduzir tudo aquilo que aprenderam no sistema social em que estavam inseridos e acabam, muitas vezes, recebendo o diploma sem ter desenvolvido as competências básicas exigidas pelo sistema escolar.
O exame nao pode ser reduzido a apenas um serviço ou uma prática escolar , pois ele determina a vida do sujeito em todos os aspectos, e sua supervalorização é resultado do sistema de oportunidades em que a sociedade contemporânea está baseada, uma falsa estrutura de igualdade social regida pela hierarquia dos êxitos escolares.
O sistema de oportunidades é explicado pelos autores conforme trecho:
“Eis porque a estrutura das oportunidades objetivas da ascensão pela Escola, condiciona as disposições relativamente à Escola e à ascensão pela Escola, disposições que contribuem por sua vez de uma maneira determinante para definir as oportunidades de ter acesso à Escola, de aderir às suas normas e de nela ter êxito, e, por conseguinte as oportunidades de ascensão social”. (BOURDIEU E PASSERON, 1970 p. 190)
No trecho acima, os autores caracterizam a Escola e sua estrutura como uma oportunidade de ascensão social, ou um meio, um caminho para isso, e esse pensamento é decorrente da democratização do ensino e da elevação de diplomados com o tempo, que leva a escola a substituir progressivamente as desigualdades de acesso ao ensino pelas desigualdades de currículos para manter sua função social de reprodutora social.
Com isso, pode-se notar que as escolhas de cursos e instituições de ensino passam a ser fortemente hierarquizadas e repletas de valores atribuídos socialmente graças ao capital e poder simbólico das instituições, agentes escolares e seus usuários.
Neste cenário, o que é valorizado não se restringe a apenas o quanto o indivíduo sabe ou estudou sobre determinado assunto, mas também onde e qual curso prestigiado pela sociedade cursou, efetivando mais uma vez as desigualdades, agora, de currículos.
Desta forma, a partir deste capítulo e da obra como um todo, Bourdieu e Passeron foram capazes, de demonstrar que as características sociais, culturais e políticas do sistema educacional francês, de fato, reproduziram as hierarquias existentes e as formas de dominação social, assim revelando o esvaziamento real das noções de igualdade propagadas por um sistema que seria democrático, e que a todos ofereceria tais oportunidades.
Por isso, o conceito de reprodução, na obra destes autores, é igualmente decisivo, pois permite compreender porque os indivíduos, envoltos de discursos e ideologias dominantes, acreditam que as chances existam para todos quando, de fato, as estruturas existentes e as práticas sociais que permeiam a estrutura social, ao contrário, apenas reproduzem a situação atual da sociedade, e o exame é um instrumento claro de perpetuação da contraposição entre igualdades e desigualdades no âmbito social.”


BOURDIEU

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